Infância

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quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Guilhotinas, Pelouros e Castelos


Às vésperas do vestibular da Universidade Estadual do Piauí, continuo sem entender o porquê da seleção, enquanto leitura obrigatória, de algumas obras literárias.

Sendo o processo de seleção estressante, cruel, discriminatório e intolerante - tadinho do pré-vestibulando que cometer um erro sequer! -, considero uma falta de sensibilidade sobrenatural a indicação de autores como Álvares de Azevedo e Mário de Sá-Carneiro. Não pretendo desmerecer ou mesmo questionar a capacidade artística dos respectivos escritores. Seria loucura, irresponsabilidade desmedida, não reconhecer a força inocente do melhor representante da segunda geração da poesia romântica brasileira. Seria também estupidez menosprezar a técnica e a versatilidade do poeta português.

A questão é: Manuel Antonio Álvares de Azevedo morreu aos 20 anos de idade. De tão egocêntrico e pessimista, deixou de lado as drogas, a vida boêmia e as doenças sexualmente transmissíveis para entregar-se à morte, noiva apaixonada e fiel que finalmente o libertaria do tédio.

A questão é: Mário de Sá-Carneiro, aos 26 anos, inadequado e disperso cometera suicídio. Estricnina e champanhe bastaram para que pudesse finalmente mergulhar no sonho e no delírio.

Esclareçam-me: apresentar a jovens tensos, pressionados pela família e pela sociedade, a possibilidade de uma morte precoce, expor a biografia de artistas deprimidos, exaltando-lhes a genialidade, servirá mesmo para quê?

Os contos de Noite na Taverna são tão sinistros, violentos e debochados. Os poemas do livro Dispersão tão tristes, amargurados e sombrios. Nossos alunos tão preocupados em corresponder às expectativas. Papais e mamães tão ansiosos em realizar os próprios desejos. Escolas e professores tão preocupados em estampar pelas ruas do planeta a inteligência e a felicidade do adolescente aprovado em todos os concursos, quando na verdade são tão poucos os aprovados porque não há vagas suficientes.

O que há, insisto, é uma despreocupação com a auto-estima de meninos e meninas. E se eu fracassar? Questiona o aluno de famosa escola particular de Teresina. Tornar-me-ei bandido, necrófilo, canibal? Fugirei da realidade, reduzindo a vida a uma seqüência de surtos que me levarão ao suicídio?

E se (?).