Infância

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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Fantasia


Quisera eu permanecer estático assim como tu és sempre estático. Quisera eu não sofrer porque o gesso não sofre. A tinta não sofre. O olhar pintado em preto e branco nada mais é do que um falso olhar pintado em preto e branco. Quisera eu ter sempre as mãos quietinhas e resignadas. E as pernas entrelaçadas feito uma borboleta que nunca fora casulo e sequer desejou – um dia – voar.

Quisera. Eu. Não ser. Modelo psicanalítico de todas as pulsões. Quisera. Alienado. Desejar apenas o que está ao alcance das mãos estáticas. Dos desejos estáticos. Das pernas – borboletas verdes – também estáticas. Quisera eu não delirar. Não questionar. O que é o delírio? Fantasia que já não se concebe com tal. Neurose? Psicose? Deus sabe. A ciência sabe. Freud – limitado e preconceituoso – jamais será capaz de explicar. Ai, mitos, a arrogância apenas delimita e generaliza e enquadra.

E ninguém sabe de nada. Ninguém representado aqui enquanto alegoria. Ciência. Religião. Capitalismo. Visão maniqueísta e ultrapassada. Época em que o homem era bom. Época em que o homem era mau. E o bem e o mal - expressão antitética – jamais paradoxal – do homem inferior – porém egocêntrico – e universal.

Gutural. E rouco. E louco. E pouco atento àquilo, concepção conceitual, que se convencionou chamar de felicidade. Porque a felicidade nada mais é do que a fantasia de todos os homens. Nós. E enquanto fantasia jamais, materializada no real, será possível de nos fazer sentir realmente felizes. Felizes? Como se a experiência há tanto séculos já não proclamasse: insatisfação.

domingo, 2 de setembro de 2007

Ânsia


De quando se faz necessário álcool. De quando se faz necessário sofrer. De quando se faz necessário insônia. De quando quando se faz necessário tudo enquanto. De quando tudo enquanto vem à cabeça. De quando enquanto se pensa em tudo enquanto nada se revela tanto. De quando portanto tudo entanto enquanto álcool nada. De quando se faz necessário em algo e em tudo. Vazio.
De quando se faz necessário enxergar. De quando se faz necessário gritar. De quando ao enxergar e gritar se faz necessário calar. De quando ao calar e gritar se faz necessário enxergar o grito e o silêncio e o que há enquanto dor. De quando se faz necessário dor porque há dor. Ardor. Vazio.
De quando se faz necessário correr. De quando se faz necessário morrer. De quando se faz necessário conter o utópico desejo de morrer e viver. De quando se faz necessário ser e não ser. De quando se faz necessário ter tudo aquilo enquanto tudo aquilo que nunca se quis. De quando se faz necessário no entanto em tantos sonhos despertar. Vazio.
De quando se faz necessário partir. De quando se faz necessário sorrir. De quando se faz necessário sentir e sorrir e partir. De quando se faz necessário no entanto enquanto tantos sorrisos e lágrimas e quantos desejos e bocejos insones. Sentir. De quando se faz necessário cair na real. De quando se faz necessário tudo enquanto portanto. Vazio.
De quando se faz necessário o grito. De quando se faz necessário o silêncio. De quando se faz necessário a dor. De quando se faz necessário a morte. De quanto se faz necessário a vida. De quando nada se faz necessário. De quando tudo se faz necessário. De quando nada enquanto tudo. Vazio.