Infância

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sábado, 5 de janeiro de 2008

História de Humor


Incentivado pela sogra - e não me venham com piadinhas preconceituosas – recepcionei o ano de 2008 na Barra Grande. Havia poucas pessoas. Além da minha família, algumas outras famílias desejosas de um pouquinho de tranquilidade. Congestionamento (para quê?). Empurra-empurra (por quê?). Estacionar a quilômetros do evento (nem pensar!).

E pensar que a música mais estrondosa veio dos tambores tímidos de um Reisado que insiste em sobreviver. Não estou falando de AXÉ-REISADO, MC-REISADO, REISADO-POWER. Não! Não! Não! Nadinha de mega-produção. Muito menos tecnologia de última geração. Deparamo-nos apenas com uma geração incentivada por gente humilde cuja maior riqueza é a tradição. O que importa se as rimas são pobres? Substantivos rimando com substantivos arrancaram a faca, a foice, a facão lágrimas até então reprimidas.

Um pouquinho antes da ceia, reunimo-nos para a meditação. Todos sabíamos que um famoso humorista piauiense coordenaria a reflexão. Tamanha foi a surpresa quando o homem – eu não o conhecia pessoalmente, apesar de já ter assistido a muitos de seus espetáculos –, vestido de preto, aparentando cansaço e uma velhice bem mais velha (quarenta anos que nada!), conduziu a palavra, falando de esperança e de fé, quando o que menos se percebia em sua postura e em seu olhar era justamente fé e esperança.

A maravilhosa sina do palhaço. Sabedoria popular. Casa de ferreiro, espeto de pau. Enquanto todos ouviam, ele, sozinho no picadeiro, encontrava forças para não chorar. Mesmo sufocado pela angústia, discursava sobre a paz e sobre o amor, para que nos sentíssemos confortáveis. E eu questionando-me naquele instante: por que esse sorumbático João, tão grande e importante para a cultura de nosso estado, não consegue libertar-se da tristeza e da dor?

Ao final fui cumprimentá-lo. Desejei dizer-lhe muitas coisas. Exigir uma história engraçada qualquer. Apresentar-me. Pedir um autógrafo. Sei lá. Não sei. Apenas abracei-o e resmunguei sabe-se lá o quê.