Infância

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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A Ciência da Paixão



Por que invadir um apartamento e reduzir à condição de refém a mulher amada? Qual a explicação para o comportamento da adolescente que desiste de viver após o termino do relacionamento? Por que desperdiçar tanta energia na tentativa de aprisionar quem já não pretende desfrutar a nossa companhia? Se a paixão é apenas um dos muitos artifícios utilizados pela natureza para que continuemos procriando, não seria menos cansativo, psíquica e fisicamente, identificar imediatamente um novo parceiro para acasalar?

Não é tão simples assim. Principalmente se o “outro” nos abandonou. O sofrimento é inevitável. Prolonga-se por vários meses. Principalmente se alimentado pela baixa auto-estima. Enquanto o indivíduo não elaborar por completo o luto, dificilmente compreenderá o término do relacionamento. Desejo de morte, auto-piedade, vingança, amor e ódio, enquanto confusão mental, podem, inclusive, levar o “apaixonado” à depressão. O médico e escritor Moacyr Scliar resume bem a questão: “as paixões reprimidas, contrariadas ou mal-sucedidas adoecem as pessoas”.

Para alguns pesquisadores a depressão tem seu lado positivo: chegou o momento de encarar-se a si mesmo. Momento de enfrentar o problema e preparar-se para o recomeço. Momento de reorganizar o cérebro já que a produção de dopamina aumenta consideravelmente logo após o término do relacionamento. Dopamina sim! A paixão desperta as mesmas áreas cerebrais responsáveis pela sensação de bem-estar. O que sentimos quando olhamos para a fotografia de quem amamos é o mesmo que sentimos quando estamos diante daquela comida saborosa. Amar, pensam alguns cientistas, é apenas a motivação para alcançar o que se deseja. E quando o objeto do desejo parece inatingível, o organismo, ironicamente, produz uma maior quantidade de dopamina, aumentando ainda mais a frustração. É o cérebro que primeiro nos força a lutar pelo resgate da relação, para que depois, resignados, entendamos que nem todos os sonhos serão materializados.

Entre a frustração e a resignação, a ameaça. Nos mamíferos, por exemplo, a ausência da mãe (objeto desejado), provoca pânico nos filhotes. Seria imprudência não acreditar que os seres humanos carregam resquícios mentais dessa experiência. Furiosos, confusos e assustados podemos, se não cometer suicídio, destruir aquilo que mais cobiçamos. Infelizmente o amor não anula o ódio. Infelizmente amor e ódio são bem menos contraditórios do que se supõe.