Infância

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sábado, 18 de abril de 2009

Caso de Polícia


No Brasil, agora é assim: bandido que tem uma boa condição financeira contrata logo o perito Ricardo Molina. O resultado é sempre o mesmo: a polícia, despreparada e precipitada, não soube trabalhar direitinho. Os laudos de Molina: taxativos, conclusivos e inquestionáveis (Ah, gradação, o que seria da ironia sem a redundância que tão bem sabes provocar!).

Depois do casal Nardoni, agora é a vez de o banqueiro Daniel Dantas recorrer ao miraculoso trabalho do professor, na área de Fonética Forense, da Unicamp. Penso que Daniel Dantas não foi feliz em sua decisão. O nome de Ricardo Molina, hoje, está mais associado a um sensacionalismo, desrespeitoso e imprudente, em relação ao trabalho de nossa perícia criminal. Se ele é um bom profissional? Duvido muito. Ético? Ele já deixou bem claro que não é. Nem precisamos pesquisar muito. Declarações ofensivas e debochadas do professor estampam as principais páginas dos principais jornais do país: "Os peritos do caso Isabella estão igual cachorro correndo atrás do próprio rabo". Influenciar a opinião pública, excitar a mídia e agendar cada vez mais palestras é, certamente, a principal habilidade de Ricardo Molina.

O juiz Fausto de Sanctis condenou Daniel Dantas a dez anos de prisão por corrupção ativa. O banqueiro, utilizando-se do ineficiente trabalho dos escudeiros Humberto Braz e Hugo Chicaroni, tentou subornar o delegado da Polícia Federal, Victor Hugo Ferreira. Agora, a mais nova arma do banqueiro, afirma, em laudo: "A atribuição das falas ao interlocutor Humberto Braz é um ato arbitrário, sem qualquer fundamento técnico".

Sem qualquer fundamento técnico? Paciência! A polícia brinca de investigar? É isso? É assim que funciona? Apenas o senhor Ricardo Molina assistiu a todas as aulas? E nas aulas o que lhe ensinaram? As conclusões beneficiarão aquele que contratou e remunerou - muito bem, diga-se de passagem - o serviço do perito?
Na condição de professor de literatura, invoco Edgar Allan Poe, Charles Dickens e Ruth Rendell. Invoco Agatha Cristhie, Hitchcock e Arthur Conan Doyle. Invoco a inteligência e a sensatez. Porque jamais a ficção pareceu tão verossímil. Porque, no Brasil, a inverossímil realidade já não satisfaz.