Infância

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Mães e Filhos


Na semana que antecede o dia das mães, pretendo escrever (desabafar) a respeito de uma incômoda idéia, dessas que ficam atravessadas durante semanas, atrapalhando a organização dos pensamentos, implorando para materializar-se enquanto texto. Idéia que não resultará em cartões coloridos. Em agrados e mimos. Em palavras de amor.

Mães reunindo-se em grupos de apoio. Mães apoiando mães. Mães de filhos-apenas-saudade. Mães derrotadas diante de meninos mortos. Mães de filhos-apenas-lembrança. Mulheres sozinhas e confusas. Assimilando os porquês de tamanha aflição.

O adolescente não entende que, ao arriscar-se, é a vida dos pais que também está em jogo. O adolescente não vislumbra a possibilidade do erro. E ao errar, exaure a mãe em um inferno-turbilhão de desespero. Cabe ao pai (o macho racional indestrutível), juntar os cacos daquela família arrasada pela fatalidade. Bem sabe ele que o serviço é inútil. Nada será capaz de substituir o pedacinho que se foi para sempre.

E o pedacinho que se foi para sempre passava as noites com os amigos (pedacinhos que também se foram para sempre) praticando um estranho jogo de xadrez com a morte. Egocêntrico, não enxergava o vigor da adversária. Sem capacete, alcoolizado e em alta velocidade alumiava-lhe a possibilidade da vitória. De repente: xeque-mate. O reizinho está morto.

E quantos eufemismos diante da mãe! Quanta gritaria durante o velório! Por quê? Se era tão jovem. Por quê? Se era imortal. Por quê? Se sabia exatamente o que estava fazendo. Por quê? Se nada poderia atingi-lo. Por quê? Se agora apenas sombra. Apenas pó. Apenas nada.

Numa tentativa desesperada, mães agarram-se a mães. Chegou a hora de elaborar o luto. Para isso há páginas na internet. Programas de televisão. Grupos religiosos. Há mães compartilhando a experiência dolorosa em praças e auditórios. O problema é que o diálogo é restrito. Entendem o sofrimento umas das outras, mas não entendem o papel da família nesse processo. São capazes de amparar, enquanto nova tragédia constrói-se em suas próprias casas.

Sonho com o dia em que um grupo de adolescentes interditará a Frei Serafim. Faixas e cartazes chamando a atenção de tantos outros adolescentes. Alguns ficarão espantados. Afinal, não são mães chorando a perda dos filhos. São os próprios filhos anunciando: não nos perderemos mais.