Infância

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sábado, 18 de julho de 2009

Poderosos Chefões


Quando Mario Puzo publicou, em 1969, O Poderoso Chefão (The Godfather), talvez não imaginasse que a ascensão de um siciliano por meios ilícitos - após mudar-se para os Estados Unidos -, pudesse adquirir a universalidade daquelas obras que em pouco tempo alcançam o status de um best-seller.

O livro é mesmo universal. Atemporal. De uma atualidade sobrenatural. O padrinho Don Corleoni, agora chefe de poderosa família mafiosa, tem “amigos” influentes e corruptos: juízes, advogados, policiais, empresários, jornalistas e produtores de cinema. Todos entrelaçados em uma intricada rede de troca de favores. É assim que o italiano dirige os negócios. Ajudando todos que o procuram, para que no momento certo possa também contar com agrados preciosos.

Claro que em vínculo marcado pelo mero interesse material, há sempre de surgir - vez ou outra - a figura do precipitado. Do inconformado. Do imprudente. Do traidor. Aquele indivíduo tão obstinado em ganhar mais dinheiro, incapaz de perceber a sepultura aberta em torno dos próprios pés.

Emergem os escândalos. Os rivais, culpados de semelhantes crimes, exigem punição exemplar. A população, em sua grande maioria, opta por uma tira de pano, bastante apertada, oprimindo os olhos. Em pouco tempo a normalidade restabelecida. Bandido deixa de ser bandido. O indivíduo era apenas uma pessoa de bem, íntegra e ética. Vítima de uma série de mentiras orquestradas para destruí-lo e impedir a continuidade de maravilhoso trabalho.

O poderoso chefão não pode cair. Quantos não cairiam também? Efeito dominó. Uma bagaceira só. Que se dê mal um assistente aqui, um parente acolá. E prontinho! A sociedade empanturrada de justiça. Hora de tirar o merecido cochilo. Sonhar com ursinhos tagarelando em castelos cor-de-rosa.

Mario Puzo, escritor e jornalista, faleceu há dez anos. Seus textos não são meros retratos míticos da máfia siciliana. Também não são resumos históricos da emigração italiana. O conjunto de sua obra é, verdadeiramente, a reconstituição psicológica de um ser humano distorcido após duas grandes guerras.

Seres humanos sobrevivendo a qualquer custo. Ocupando, até os dias de hoje, os mais importantes cargos. Sociopatas valendo-se dos mesmos métodos eficientes de outrora. Uma gente insensível de cabeça erguida. Permanecendo no poder, mesmo com tantas evidências arrancando-lhes as máscaras.