Infância

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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Apenas mais uma lição


Magníficas lições as lições que nos ensinam as lágrimas. Principalmente quando é uma garotinha chorando assustada porque você a decepcionou.

Aconteceu assim mesmo. Fui capaz de agredir e reprimir olhos brilhantes. Revelei-me incapaz de perceber o encanto de uma menininha, caminhante anônima e discreta, esperta o bastante para reconhecer em mim o ser humano que sequer chegarei a ser.

E como tem sido difícil encará-la agora. Mais difícil ainda enxergar a materialização dos próprios erros. Quando os olhinhos da princesa recuam, encabulados, infinitas punhaladas, em infinitos pontos do meu corpo finito, tentam em vão atingir a alma do professor. É que o professor, traído pelo poderoso 1150, lançou pela boca o espírito pútrido. Há apenas sobejo de arrependimento sustentando a matéria desalinhada de Jeosá.

Tentando racionalizar minha atitude, afirmaria que o estresse provocado pela quantidade de aulas embotou-me o raciocínio. Acrescentaria, em meu argumento, o crescente interesse, de muitos adolescentes, pela disciplina “estudar é a maior bobagem”. Concluiria com o inadequado e frágil lugar-comum: errar é humano.

Não importa o que fiz. Não pretendo mesmo explicar. Padeço, momentaneamente, de impaciência narrativa. Descrever a cena provocaria calafrios ordinários. Melhor então nem começar. O aperto no peito e as mãos trêmulas e o arrependimento, castigos impostos pelo carrasco chamado consciência, habitante da cabeça do jerico, já provocaram em Jeosá angústia suficiente.

Penso na menininha e nos olhos da menininha desde o fatídico episódio. Precisei de duas semanas para compor esta crônica. Não sabia exatamente por onde começar. Nem o que dizer. Muito menos como me desculpar. De repente percebi o quão importante seria apenas escrever. Cada palavra, por si só, revelaria o tamanho da minha preocupação. Cada palavra, insistente, maçante, entediante (que seja!), acalmaria o coraçãozinho de Niellyda.

Acalmaria o coração de Jeosá.