Infância

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domingo, 15 de janeiro de 2012

O sonho de Jeosá


A espingarda de canos duplos paralelos simplesmente desapareceu. Nem mesmo há uma escrivaninha. No lugar do guarda-roupa uma parede vazia. Uma velha cama de madeira (sem colchão) repousa no centro do quarto. Sequer um resquício das velas. Dos olhos de escuridão nenhum sobreviveu. Nadinha, nadinha de sombras conselheiras. E, principalmente, ali, naquela nave, apenas luz.

Os passos da mãe do professor de literatura não mais despedaçam o silêncio. Ao redor de Jeosá um sossego-vácuo maravilhoso. Para o professor tudo na casa faz parecer que se está em outra casa. Uma casa em que se pode respirar direitinho. Sem o aperto no peito de todos os dias. Estranho que não existam portas e janelas. Apenas os vãos apontando para uma saída que até pouco tempo seria uma impossibilidade.

Mas Jeosá prefere ficar. Sente-se bem. Confortável. Os destroços do cenário de um suicídio e a poeira característica de qualquer desastre não incomodam o professor de literatura. É que o professor de literatura, diante da metáfora-destruição dos Lefontenes, respira agora aliviado. Encontrou, finalmente, um lar.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012