Infância

Infância

sexta-feira, 29 de março de 2013

De flores, de frutas, de cera.





Jeosá é prisioneiro da própria mãe. Não há caminho que não mergulhe na sombra da sombra projetada da mãe. Morto, o professor de literatura libertar-se-á? Ou mesmo ali, no vazio, não existindo mais, encontrará uma legião de mães – reais ou imaginárias – para sufocá-lo?

Por isso mesmo a espingarda de canos duplos paralelos ainda repousa sobre a cama. Ponderação. De que vale morrer se a morte não for capaz de por fim à consciência? Melhor permanecer por aqui com a (in)certeza da efemeridade. Guarda-roupa. Escrivaninha. Paredes amarelas. Velas. Espingarda de canos duplos paralelos. Ágatas ocres. Olhos de jabuticaba. Até quando?

Até quando nada mais se fizer necessário. Até quando o sofrimento de Jeosá continuar alimentando o que quer que seja e que precisa justamente do sofrimento de Jeosá para sobreviver.
           
           

domingo, 24 de março de 2013

Carta Póstuma de Jean Piaget



 

Dileto Professor do Século XXI,


Durante três dias consecutivos observei as suas aulas. O que mais me incomodou foi a quietude dos alunos. Meninos e meninas, de sete ou oito anos, feito estátuas em suas cadeiras, talvez transpareçam uma maravilhosa concentração que somente resultará em aprendizagem. Cuidado. Não se precipite. Afinal, “o sujeito não é passivo nem pré-formado, mas interage com o meio e nesta interação constrói o conhecimento através de descobertas e invenções”.  Acrescento: “a função do professor é desafiar o aluno, provocando constante desequilíbrio em seus esquemas mentais”.  


O senhor não é mal intencionado, mas as respostas prontas que apresenta para os alunos pouco contribuirão para o desenvolvimento cognitivo dos mesmos. Na idade em que se encontram (estágio operatório-concreto) espera-se que já sejam capazes de pensar logicamente sobre objetos e eventos. A questão é: como verificar tais habilidades se os alunos apenas ouvem e anotam (haverá assimilação?) durante as aulas?


Para melhor orientá-lo, sugiro a leitura completa de minha Teoria Psicogenética que, em resumo, consiste em uma “dis­ciplina que estuda os mecanismos e os processos mediante os quais se passa dos estados de menor conhecimento aos esta­dos de conhecimento mais elevado – proximidade ao conheci­mento científico”.

Sem mais para o momento, despeço-me com um abraço,


Jean Piaget