Minha mãe faleceu. Há quatro
anos. Como esquecer o seu corpo quietinho. No chão. Do quarto. Embaixo da rede.
Em contato com a madeira fria. O corpo frio. Mais parecia repousar. Às duas
horas. Madrugada.
Durante alguns minutos apenas
olhei para o corpo frio de minha mãe repousando ali embaixo da rede no chão
frio do quarto. O grito de Vânia. Prima-irmã. Despertou-me. Levanta a mãe Nena.
Pelo amor de Deus. Projetei-me. Levantei-a. Com alguma dificuldade. O corpo frio.
Flácido. Dificultava o abraço. O último. Abraço.
E foi assim. D. Helena partiu.
Morreu. Meu pai perguntava. De instante em instante. Eu respondia. Minha mãe
descansou. Resignação. Mas o eufemismo não fora capaz de silenciar o desespero
de Ícaro. Neto-filho. A notícia de que a avó já não cuidaria de tudo e de todos
porque agora repousava fria em uma maca fria de um pronto-socorro frio explodiu
em infinitos porquês.
Metáforas. Eufemismos. Hipérboles.
Redundância. Desespero. Resignação. A morte de minha mãe. 5 de janeiro de 2014.
Por quê?