Maria Helena Fontinele da Silva faleceu
em janeiro. Cinco de janeiro. Dois dias após o meu aniversário. Desde então,
sonhos recorrentes têm provocado em mim uma sensação de alívio em relação à
imensa saudade que sinto. Saudade de filho único. Saudade de quem perdeu aquela
que personificava o mais puro amor.
A imagem de minha mãe,
deitadinha no ataúde, mãos comportadinhas, expressão faceira como a se gabar das
obrigações cumpridas, estará sempre por aqui. Assim como os abraços e beijos e
palavras ternas. Também a exagerada confiança em um futuro brilhante para o
filho que jamais foi capaz de brilhar. Certamente, o cérebro (maravilhoso
córtex frontal) não me decepcionará quando anos mais tarde eu precisar resgatar,
apurados todos os sentidos, tais impressões eternizadas na pele, na alma.
Hoje gostaria de
compartilhar os sonhos a que me referi no primeiro parágrafo. Sonhos mesmo.
Bons sonhos. Nada de confundi-los com pesadelos. Porque neles mamãe está viva.
Bem viva. Porque recebeu (recebemos) uma segunda chance. Deus, ressuscitando-a,
proporciona a todos nós um recomeço.
E quando acordo não há
tristeza. Há a presença de minha mãe. Sim. Estamos juntos novamente. Um milagre
aconteceu. Não há angústia. Há a certeza de que ela não morreu. E não morreu
mesmo. Depois de conversarmos bastante, de nos renovarmos enquanto mãe e filho,
entendemos o valor da verdadeira imortalidade, metáfora do Amor que sentiremos
sempre um pelo outro.