Infância
sábado, 7 de dezembro de 2013
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
Transgressão
Nicanor em Parnaíba. Rua Teresina. Diante do 576. Naquele instante a ambulância do SAMU gritava-gritava a morte de Jeosá. Nicanor encarava as luzes vermelhas da sirene girando-girando impacientes. Não entendia o desapontamento que o incomodava. Afinal, estava ali para matar o professor de literatura. E Jeosá facilitara tudo ao disparar – voraz espingarda de canos duplos paralelos - contra a própria cabeça.
A mãe do professor
lamentava o trabalho que teria para limpar toda aquela bagunça. O quarto estava
que estava uma sujeira só. Fumaça e pólvora. Sangue. Cálcio. Fósforo. Sódio.
Colágeno. Fragmentos de hipocampo e de hipotálamo ainda pairavam sobre a cama. E
a sombra de Jeosá. Sombra rubra. Entre o guarda-roupa e a escrivaninha. Sombra
rubra. Sentadinha no parapeito da janela ao fundo. Sombra rubra. Projetada nas
paredes laterais. Sombra rubra. Agarrada ao gesso. Esforçando-se para não cair.
Agora Nicanor no
quarto de Jeosá. O escritor não se lembra de ter percorrido qualquer outro
cômodo da casa. Estivera o tempo todo ali? Surpreenderam-lhe os novecentos e
noventa e nove círios acesos. Logo observou que o fogo não consumia a parafina.
Aquelas velas arderiam sempre-sempre? E o que fazia segurando uma espingarda de
canos duplos paralelos? E por que Jeosá, sentadinho na cama, implorava para que ele não atirasse? O escritor não seria capaz de matar o professor. Não mesmo? Ágatas
ocres encararam ágatas ocres. Oito olhos de jabuticaba. Testemunhas mudas de um
suicídio. De um assassinato?
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
Perplexidade
Uma espingarda de canos duplos paralelos. Sobre a cama. E no cantinho. Agoniadinho. Jeosá encara as próprias mãos. Terá mesmo coragem de apertar o gatilho quando o momento de apertar o gatilho finalmente chegar?
Bem mais difícil do que imaginava. Afinal, enlouquecer não é perder a razão. É permanecer lúcido enquanto se enfrenta o ferro ardente da inquisição. Como, então, explodir a cabeça, se ali estão concentrados pensamentos tão claros?
Bem mais difícil do que imaginava. Afinal, enlouquecer não é perder a razão. É permanecer lúcido enquanto se enfrenta o ferro ardente da inquisição. Como, então, explodir a cabeça, se ali estão concentrados pensamentos tão claros?
Para Jeosá, o suicida, vítima de alguma espécie de surto, sequer perceberia a severidade de tal ato. Antes de trespassar uma bala pelo próprio crânio, seria acometido por um estado de indiferença mórbido. Mas não há torpor. Não há morbidez. Apenas a consciência estou prestes a (...). Apenas a certeza da interrupção. E aquela nítida imagem de um corpo enroladinho em lençóis de sangue.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Augusto
O morto que há em mim
Não é um espírito noturno
(alma penada a arrastar correntes)
É de carne (em decomposição)
E osso.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
domingo, 14 de julho de 2013
Woolf
Pudera eu, Virgínia,
Resguardá-la em meu colo
(bem mais cálido)
Que as friíssimas águas
Daquele rio sedutor.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Blimunda
Se não enxergas minha alma
É porque minha alma não está presa
Nesta prisão que é o corpo
Não é bem por incapacidade tua
É porque minha alma é livre
E está aqui e ali e está em ti
Tu que és claustro de mim.
sábado, 1 de junho de 2013
Filosofia de Boteco
Um dia estarei ali
De cabelos brancos
Sacudindo a cabeça
Aguardando a cerveja
Encarando a morte
Sozinho
Absorvido
Absolvido
Pela consciência
Sabe-se lá o que penso e o que sou
Menininho dos olhos dourados
Cansados.
domingo, 5 de maio de 2013
O Hóspede
Minha alma,
Feito este quarto de hotel,
É a perfeita caricatura do abandono.
Impossível perder-se ainda mais.
Inevitável não se afogar nas tépidas águas do Caldeirão.
E se desejar partir,
Retornar que seja,
For desejar morrer e silenciar e sumir?
quinta-feira, 2 de maio de 2013
quinta-feira, 18 de abril de 2013
Premonitório
Quando o demônio visitou o poeta
Feito bicho macaco azarento
Um rouxinol garganteou agourento
Parecia zombar da máscara de
horror
Alimentar-se do sangue e da
cor
Vermelhidão implacável
indigesta.
Assinar:
Postagens (Atom)