Infância

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sábado, 7 de maio de 2011

Enquanto isso na sala de aula


Certa vez uma aluna da primeira série do ensino médio interrompeu a aula de literatura para afirmar, confirmar, declarar, o seu profundo ódio pela leitura. E acrescentou: ninguém será capaz de despertar em mim, de estimular em mim, de desbravar em mim, o (bom) gosto pelos livros.

Nem pude dizer para ela que aos quinze aninhos também pensava assim. Bem antes já percebera a importância da literatura em minha vida. Ainda criança, carente de computador e de aparelhos sofisticados de DVD – recebi de autores clássicos, nacionais e estrangeiros, o apoio necessário – antídoto até – contra a solidão que se instalava em mim. E não estou aqui afirmando que me interessei pela literatura por falta de opção. Opções sempre existiram aqui, ali e acolá.

Incomoda-me pensar que algumas pessoas pensam (e divulgam) a incompatibilidade entre leitura tradicional e tecnologia. Acesso diariamente a internet. Navego pelo ORKUT, MSN, TWITTER e FACEBOOK. Faço download de músicas, vídeos e textos. Assisto a muitos filmes toscos no YOUTUBE. Favoritei os principais jornais e revistas do país. O cinema é uma grande paixão. E daí? O que me impediria de – ainda - curtir um bom livro?

Talvez a preguiça diante da possibilidade de ler e interpretar frases, períodos, estrofes, parágrafos inteiros. Ou mesmo a suposta facilidade encontrada pela geração CTRL-C/CTRL-V que sequer precisa ler o trabalho de pesquisa, encontrado ali prontinho, em sites destinados a disseminar uma acomodação distorcida e perigosa.

Voltando à aluna da primeira série do ensino médio, não a considero um caso perdido. Nunca se perde um jovem completamente. Creio que minha menininha perceberá um dia que a literatura, enquanto desdobramento da realidade, é espelho trincado – reflexo quase fiel – de seus próprios desejos, encantos, frustrações e realizações.