Infância

Infância

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Mandrião


Vai esta preguiça

Desperdiçando passos

Gritos alados faustinos

Gozos profanos mesquinhos

De tudo aquilo que um dia sonhei.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Lume


Partindo e repartindo mágoas

Tal qual o verme em sua fétida faina

Aproximando-me cada vez mais do desastre

Percorro e corro por toda parte (QUE ARTE!)


A chama já explora o estopim

Inevitável arrebentação

Desejo ser fogo para não ser consumido

Pelo próprio fogo que arde (QUE ARTE!)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Comédia


Eis Jeosá. Eis a espingarda de canos duplos paralelos. Eis o quarto. As velas. A escrivaninha. A cama. O corredor. A mãe. O impulso treme-treme da mão direita - do polegar direito - prestes a (não) apertar o gatilho.

Defunto organizando o próprio velório. Coveiro cuidando de cavar a própria cova. Assassino de si mesmo. Carpinteiro do ataúde em que (não) repousarei.

Tu encontrarás Jeosá. Ferido. Pobre. Triste. Amargo. Lúcido. A espingarda de canos duplos paralelos a tiracolo. Areia sob os pés descalços lembrando o último lençol amarrotado. O sanguessuor passeando pela rosto, umedecendo os lábios. E aquele desejo de fechar os olhos e de não encarar outra coisa que não seja a própria escuridão.

Eis Jeosá. O professor de literatura. O ator que sequer encarou a plateia porque as cortinas permaneceram fechadas. Por isso mesmo a plateia nunca soube que Jeosá esteve ali. Quietinho. Apenas ouvindo o reclama-reclama. Murmúrios inconsoláveis de quem pagou e não levou.

Tu encontrarás Jeosá. Tu encontrarás a espingarda de canos duplos paralelos. Tu encontrarás, ao abrir a porta daquele quarto, o filho – já sem rosto -, a resignação.

sábado, 2 de julho de 2011