Infância

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Causar a morte de


Do barranco para o acostamento. Do acostamento para a BR. Azáfama irresponsável. Vira-lata numa correria-correria desmedida. Pé no freio. No freio. Freio. Felizmente não há outros carros. Apenas um cachorro suicida. O impacto inevitável. E carne e osso e sangue. Enquanto os pneus protestam - aos berros - contra o asfalto.

Inevitável. Acidente. Causalidade. E quantos pensamentos intensos-tensos em tão curto espaço de tempo. Não perder o controle do carro. Manter firme o volante. Não permitir que o automóvel deslize para o lado oposto da pista. VÁCUO. Agora o mundo de cabeça para baixo. Dezenas de pernas movimentam-se de um lado para o outro. O carro sacoleja-sacoleja. Dezenas de pernas (as opiniões são as mais diversas) discutem-discutem a minha libertação.

Contrição. Por que tanta pressa de (não) chegar? Em meio a ferragens e carne e osso e sangue é muito fácil perceber a estupidez e a precipitação. Quando já é tarde. Quando o corpo machucado depara-se com o não-se-ter-mais-nada-a-remediar. Quando a única esperança são dezenas de pernas que mal conseguem equilibrar-se, feito criança dando os primeiros passos. Quando não há consenso (bom senso). Apenas o comando acanhado de vozes que nem sabem realmente o que fazer. O que fazer?

Aguardar. Vigiar. Acreditar que alguém será capaz de desenrolar aquele intricado novelo em que se metera por sua própria conta e risco. Por enquanto é ficar ali quietinho. Comportadinho. Não atrapalhar. Pernas e vozes continuam trabalhando (faina incansável). Certo ou tarde alcançarão o cadáver de Jeosá.

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