A escuridão não se libertará da escuridão.
Sequer um resquício de luz no túnel. O túnel é a própria escuridão. Jeosá,
enquanto prisioneiro de Jeosá, já não enxerga a escrivaninha. O guarda-roupa. A
espingarda de canos duplos paralelos. Não enxerga a cama. Nem a própria
escuridão. Jeosá não enxerga a si mesmo.
Imagem
intolerável do espelho – plano (?); côncavo (?); convexo (?) - que nada
reflete. Raios luminosos não atingem os olhos do espectador. Há um vazio
naquela superfície lisa. A mesma sensação experimentada por quem olha para o rosto de uma
pessoa querida e não mais percebe os traços que a individualizam. Imortalizam.
Quando
a mãe de Jeosá invadiu o quarto não havia quarto. Encontrou apenas o beco e o
muro que separava a casa da casa vizinha. Aterrorizada, gritou o nome do filho.
À procura dos móveis que preencheriam o cômodo inexistente, a mulher agrediu a
pedra branca pintada com cal. Apenas se acalmou quando o vermelho, deslizando
pela parede, atingiu-lhe os pés.
A
verdade é que Jeosá não apertou o gatilho. Nunca houve uma espingarda de canos
duplos paralelos. Nunca houve Jeosá. Apenas metáfora de. Onomatopeia de.
Passeio sinestésico. Ideação suicida.
Esperança de. Não mais existir.
Esperança de. Não mais existir.
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