Infância

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sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Por quê?



Minha mãe faleceu. Há quatro anos. Como esquecer o seu corpo quietinho. No chão. Do quarto. Embaixo da rede. Em contato com a madeira fria. O corpo frio. Mais parecia repousar. Às duas horas. Madrugada.

Durante alguns minutos apenas olhei para o corpo frio de minha mãe repousando ali embaixo da rede no chão frio do quarto. O grito de Vânia. Prima-irmã. Despertou-me. Levanta a mãe Nena. Pelo amor de Deus. Projetei-me. Levantei-a. Com alguma dificuldade. O corpo frio. Flácido. Dificultava o abraço. O último. Abraço.

E foi assim. D. Helena partiu. Morreu. Meu pai perguntava. De instante em instante. Eu respondia. Minha mãe descansou. Resignação. Mas o eufemismo não fora capaz de silenciar o desespero de Ícaro. Neto-filho. A notícia de que a avó já não cuidaria de tudo e de todos porque agora repousava fria em uma maca fria de um pronto-socorro frio explodiu em infinitos porquês.


Metáforas. Eufemismos. Hipérboles. Redundância. Desespero. Resignação. A morte de minha mãe. 5 de janeiro de 2014. Por quê? 

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