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no início do filme de Marcelo Masagão, deparamo-nos com uma personagem empurrando
um carrinho de supermercado. É possível perceber também produtos, identificados
por palavras ou números, dispostos em prateleiras. Ora, o carrinho, os produtos
e as prateleiras combinados - ícones organizados por similaridade -
remetem-nos imediatamente ao título da produção cinematográfica: 1,99 – um supermercado que vende palavras.
Há uma nítida transposição de conceitos e
caracteres denotativos e conotativos - tão familiares à linguística - para o cinema,
enquanto sistema de signos. Mas também há, por parte do roteirista e do
diretor, a consciência da importante ligação entre as linguagens verbal e não
verbal, e uma nítida valorização do representante, quando instigam o público,
no processo de compreensão da obra, a romper com a dualidade
significante/significado.
Aquele supermercado não é qualquer
supermercado. Ele vende palavras. E não são as palavras símbolos autênticos? Por
isso mesmo, nos primeiros minutos do filme, o público, antes de acomodar-se
diante da obra, passeará pelo fenômeno das categorias peirceanas, sejam elas: primeiridade,
secundidade e terceiridade, compreendendo assim que a construção da interpretação,
longe de ser arbitrária, é racional e dialética.
O leitor incapaz de identificar imagem e
diagrama, subclasses peirceanas do ícone, no filme de Masagão, não
estabelecendo assim uma relação entre significante e significado e seus
respectivos desdobramentos conotativos, dificilmente compreenderá quem são – ou
o que representam – aquelas pessoas cercadas de pneus velhos em um depósito
carente de palavras, para citar apenas um exemplo.
Assista ao filme:
https://www.youtube.com/watch?v=vSmuy5ZHBlU&list=PL62B784873F936B8F
Texto apresentado à disciplina Semiótica da Cultura, ministrada pelo Prof.º Dr.º Feliciano José B. Filho, Mestrado Acadêmico em Letras, UESPI.
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