Infância

Infância

quinta-feira, 18 de maio de 2017

1,99 – Um supermercado que vende palavras



Logo no início do filme de Marcelo Masagão, deparamo-nos com uma personagem empurrando um carrinho de supermercado. É possível perceber também produtos, identificados por palavras ou números, dispostos em prateleiras. Ora, o carrinho, os produtos e as prateleiras combinados - ícones organizados por similaridade - remetem-nos imediatamente ao título da produção cinematográfica: 1,99 – um supermercado que vende palavras.

Há uma nítida transposição de conceitos e caracteres denotativos e conotativos - tão familiares à linguística - para o cinema, enquanto sistema de signos. Mas também há, por parte do roteirista e do diretor, a consciência da importante ligação entre as linguagens verbal e não verbal, e uma nítida valorização do representante, quando instigam o público, no processo de compreensão da obra, a romper com a dualidade significante/significado.

Aquele supermercado não é qualquer supermercado. Ele vende palavras. E não são as palavras símbolos autênticos? Por isso mesmo, nos primeiros minutos do filme, o público, antes de acomodar-se diante da obra, passeará pelo fenômeno das categorias peirceanas, sejam elas: primeiridade, secundidade e terceiridade, compreendendo assim que a construção da interpretação, longe de ser arbitrária, é racional e dialética.

O leitor incapaz de identificar imagem e diagrama, subclasses peirceanas do ícone, no filme de Masagão, não estabelecendo assim uma relação entre significante e significado e seus respectivos desdobramentos conotativos, dificilmente compreenderá quem são – ou o que representam – aquelas pessoas cercadas de pneus velhos em um depósito carente de palavras, para citar apenas um exemplo.

Assista ao filme:

https://www.youtube.com/watch?v=vSmuy5ZHBlU&list=PL62B784873F936B8F

Texto apresentado à disciplina Semiótica da Cultura, ministrada pelo Prof.º Dr.º Feliciano José B. Filho, Mestrado Acadêmico em Letras, UESPI.


Nenhum comentário: