O título do conto de Guimarães Rosa já provoca
certo estranhamento. O que seria essa fantástica terceira margem?
Considerando-se signo a substituição ou representação de uma coisa por outra,
em que consistirá aquela metáfora? Será o pai, homem quieto, levando ao extremo
o isolamento? Ou o próprio rio naquele pedaço de substância que não chega a
tocar as margens direita ou esquerda? O que substitui o quê?
Para
melhor organizar a breve análise que em momento algum pretenderá alcançar a irrelevante intenção do autor, valho-me da seguinte afirmativa de Paul Válery: “Não há verdadeiro
sentido de um texto”, para logo em seguida, dessa vez citando Todorov, “O autor
entra com as palavras e o leitor com o sentido”, ratificar a ideia de que a
infinitude de significados de um texto não resultará, sobremaneira, em
interpretações medíocres.
Os
signos como passam a ser trabalhados pelo autor, numa combinação inédita,
lançam um novo signo: pai e rio tornam-se uma outra coisa, provocando assim
uma necessidade de estudo e compreensão daquela nova verdade, até - parafraseando
Jung - tornar-se familiar demais, perdendo assim todo o mistério. Quando,
finalmente deixaremos Guimarães Rosa em paz, um homem dentro de uma canoa em um
rio será apenas um homem dentro de uma canoa em um rio.
Texto apresentado à disciplina Semiótica da Cultura, ministrada pelo Prof.º Dr.º Feliciano José B. Filho, Mestrado Acadêmico em Letras, UESPI.
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