Infância

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domingo, 7 de maio de 2017

A Terceira Margem do Rio



O título do conto de Guimarães Rosa já provoca certo estranhamento. O que seria essa fantástica terceira margem? Considerando-se signo a substituição ou representação de uma coisa por outra, em que consistirá aquela metáfora? Será o pai, homem quieto, levando ao extremo o isolamento? Ou o próprio rio naquele pedaço de substância que não chega a tocar as margens direita ou esquerda? O que substitui o quê?

Para melhor organizar a breve análise que em momento algum pretenderá alcançar a irrelevante intenção do autor, valho-me da seguinte afirmativa de Paul Válery: “Não há verdadeiro sentido de um texto”, para logo em seguida, dessa vez citando Todorov, “O autor entra com as palavras e o leitor com o sentido”, ratificar a ideia de que a infinitude de significados de um texto não resultará, sobremaneira, em interpretações medíocres.

Os signos como passam a ser trabalhados pelo autor, numa combinação inédita, lançam um novo signo: pai e rio tornam-se uma outra coisa, provocando assim uma necessidade de estudo e compreensão daquela nova verdade, até - parafraseando Jung - tornar-se familiar demais, perdendo assim todo o mistério. Quando, finalmente deixaremos Guimarães Rosa em paz, um homem dentro de uma canoa em um rio será apenas um homem dentro de uma canoa em um rio.


Texto apresentado à disciplina Semiótica da Cultura, ministrada pelo Prof.º Dr.º Feliciano José B. Filho, Mestrado Acadêmico em Letras, UESPI. 

           


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