Infância

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sábado, 19 de janeiro de 2013

O Assassinador (TERCEIRA PARTE)


Maria Celeste, aos trinta e cinco anos, ainda era virgem. Morava apenas com a mãe. O pai morreu quando a menina, aos oitos anos, foi atropelada por uma moto. Ao correr para o Getúlio Vargas - o coração numa disparada só -, Absalão desabaou ali mesmo na recepção do hospital.

Dona Joana jamais conversou com a filha a respeito da morte do marido. Mas Maria Celeste sabia que a mãe, em seu silêncio, encarava-a enquanto a única responsável pela tragédia. Afinal, quantas vezes fora alertada do perigo que era brincar na rua, correndo atrás de uma bola, cercada de pivetes. Por que não ficava quietinha em casa, com as suas bonecas, como faziam as meninas do bairro?

O problema é que desde então verificou-se no comportamento da pequena Maria um total abandono por toda e qualquer atitude estereotipada do comportamento feminino. Batons, esmaltes, vestidos e saias jamais fizeram parte da vida da empresária. Nem mesmo na adolescência. A menstruação - sangue maldito! - provocou na menina uma necessidade de isolamento tamanha que durante dez dias foi difícil convencê-la a sair de casa. Mais difícil ainda desprezar os boatos, espalhados pela vizinhança, a respeito da opção sexual da moça. 
Maria apenas sofria diante das preocupações de dona Joana. Essa gente não sabe de nada. Não entendem que não quero casar. Não percebem os plano. Se matei meu pai, preciso agora cuidar da minha mãe.

(CONTINUA...)

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